quinta-feira, 3 de março de 2016

Indexação volta a pressionar a inflação

por Marina Schmidt
"Trinta anos após o primeiro grande plano para conter a inflação - o Plano Cruzado -, a alta dos preços no Brasil volta a assombrar a população. No ano passado, quando o índice oficial do País, o IPCA, chegou a 10,67%, o percentual de variação de preços aproximou-se dos patamares atingidos em 2002, quando a taxa chegou a 12,53%. Antes disso, o último ano em que foram registrados os temidos dois dígitos foi 1995, já no fim do período hiperinflacionário que o País enfrentou durante duas décadas, entre as décadas de 1980 e 1990. Para quem conviveu com uma inflação que, ao ano, já chegou a três e até a quatro dígitos (a maior alta ocorreu em 1993, quando o IPCA alcançou exatos 2.477,15%), a casa decimal não causa o mesmo temor que há 30 anos pairava sobre o País, mas já é um sinal de alerta.
O contexto da economia brasileira, antes da década de 1980, já era o da inflação de dois dígitos por ano. Somado a isso, a política fiscal perdia credibilidade, com o aumento consecutivo do déficit público. Esse cenário foi ficando mais nebuloso com revezes econômicos internacionais, como o choque do petróleo e a crise da dívida. Estavam reunidas as condições que levariam à hiperinflação. "Houve uma desvalorização absurda do câmbio, e tudo isso provocou aumentos de preços muito fortes em uma economia que já não vinha muito bem", explica o doutor em Economia e coordenador do curso de Relações Internacionais do Ibmec/MG, Reginaldo Nogueira.
Essa avalanche é resultado de um ciclo de aumentos, em que uma elevação de preço levava a outra em um efeito em cadeia que parecia não ter fim. Assim era a indexação, que está se propagando, novamente, na atual economia brasileira. "Parece que a gente não aprendeu. Depois de 20 anos, estamos voltando a criar os mecanismos de indexação", avalia o doutor em Economia e professor titular da Ufrgs Marcelo Portugal.
Outro fenômeno inerente à elevação dos preços é a inércia inflacionária. "É mais ou menos o que está acontecendo agora", introduz Nogueira. Quando se perde a capacidade de previsibilidade os índices de inflação, o natural é que os preços comecem a replicar taxas anteriores. Dessa forma, aquela elevação que seria de curto prazo, apenas um choque temporário, acaba se estendendo por um período maior se não houver uma sinalização clara do patamar dos preços no médio e longo prazo. "As pessoas não sabem para onde os preços vão convergir, porque, nos últimos anos, o Banco Central simplesmente ignorou a meta de 4,5%."
Tanto a inércia quanto a indexação estão entre as razões que fazem com que a inflação atual esteja tão persistente, afirmam os economistas. São, também, as mesmas origens que, há 30 anos, conduziram o País para o descontrole inflacionário. Apesar de não haver risco de eminente retorno a percentuais tão altos quanto os daquele período, a sinalização é de que a economia brasileira ainda irá caminhar em meio a tropeços nos próximos anos."

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